FIRST CLASS
CATHERINE DENEUVE NO BRASIL
by Ovadia Saadia
Catherine Deneuve esteve no Brasil para lançar o filme 'Potiche'
Chovia a cântaros. Deneuve se assustou com os tremores da ponte aérea Rio - SP de onde saiu de helicóptero para Congonhas da imensa e palaciana suite presidencial do Tivoli Mofarrej. Em sua badalada, rápida e muito intensa passagem pelo Rio e SP, Catherine Deneuve, 67 ou 70 anos (biografias são imprecisas), disse que os brasileiros são caretas, criticou a banalização da informação, ficou apaixonada pelos estrelas e insuportáveis irmãos Campana e desmistificou o título de diva, que na verdade parece amar. "É pejorativo, parece coisa de alguém cheio de vontades", disse, em entrevista para divulgação do filme Potiche: Esposa Troféu, excelente filme de François Ozon, como parte do estranho Festival Varilux de Cinema.
Numa calça de veludo roxa e cardigã verde , a musa de YSL foi simpática quando chegou depois de duas horas de espera - o vôo de São Paulo atrasou por conta do mau tempo - e arriscou um "bom dia" em português. Deneuve conheceu o RJ em 1963 com o falecido diretor de cinema Jean Gabriel Albicocco, cujo filme mais famoso A Garota dos Olhos de Ouro (belíssimo, com Marie Laforet) foi lançado sem divulgação em DVD.
Aparentemente, o cotidiano da atriz não tem nada de diva e fez questão de dizer que não vive como a Catherine Deneuve e sim como a Catherine. "Às vezes, é um pouco pesado ser Deneuve, mas há mais vantagens do que desvantagens. Moro num bairro em que as pessoas estão acostumadas comigo. Não vou à Champs-Elysées (avenida badalada de Paris), claro, fico em Saint-Germain, que é um bairro mais boêmio. O culto às celebridades tomou uma proporção tão grande que as pessoas olham para imagens que não tem menor importância, banalizou muito. Na França menos, mas mesmo lá", desabafou.
Mais frases da atriz, que já há algum tempo não via um sucesso como Potiche na França:
"As pessoas aceitam coisas que não aceitavam antes, como fazer fotos na sua cozinha, na sala, no jardim. Se eu quero saber sobre uma atriz, vejo o filme e avalio o seu trabalho. O que faz falta ao cinema é o mistério. Não quero saber se os atores vão à feira, levam os filhos à escola ou jantam em tal restaurante", disparou sobre o assunto exaustivamente comentado quando fumou dois cigarros durante a coletiva em SP. "Estou aqui para falar de Potiche e não para parecer uma fumante compulsiva. Sou contra o politicamente correto. Fiz uma viagem longuíssima, complicadíssima, para falar do filme e o que vai ficar é 'ih, ela fumou'. Francamente!".
Assim que saiu da saleta de entrevistas do hotel cinco estrelas Sofitel - depois de 40 minutos - foi direto para a varanda do hotel, onde acendeu um forte cigarro Gauloise - marca popular na França - atrás do outro, tomou café, comeu um muffin e, vaidosa ao extremo, não largou do espelhinho para corrigir e dar um up na maquiagem e no cabelo, sempre impecáveis.
A diva - mesmo tentando, não tem como escapar do título -, que trabalhou com diretores como Roman Polanski, Lars von Trier, François Truffaut, Claude Lelouch e Mario Monicelli, revelou um nome com quem gostaria de atuar. "Sei que sou francesa e tenho pouca chance de fazer um filme anglo-saxão ou americano. Um diretor que admiro muito, com quem adoraria fazer um filme, é o (Francis Ford) Coppola", confidenciou.
Perguntada sobre o que achava sobre mulheres no poder, Deneuve retrucou: "Você que tem que me dizer como é, já que vocês têm uma presidente", para risos da platéia.
Em São Paulo, ela (na foto com Jean Thomaz e Gilbert Stein) visitou o ateliê dos irmãos Campana ("foi uma das coisas mais maravilhosas que já vi na vida", exagerou), o MAM, comprou o livro dos designers de móveis e dois jacarés do artista Arqueiro, na loja do museu.
A francesa, que praticamante nunca parou de atuar no cinema francês e mundial, também não poupou Hollywood: "Acho lamentável o culto à beleza e à juventude, porque é muito limitador. É mais fácil envelhecer na Europa que nos Estados Unidos. É claro que, aos 67 anos, não posso mais fazer papéis de menina. Eles vão mudando conforme a idade, mas também deixam muitas possibilidades em aberto. O importante é estar bem consigo mesma".
Deneuve voltou à suíte presidencial do Sofitel RJ, descansou e, às nove e dez da noite, estava bem menos elegante do que em São Paulo num macacão de seda preto datado e echarpe óbvia rosa na porta do cinema Odeon, ao lado de toda a troupe française que esteve na cidade para a abertura do festival, como Audrey Tautou - a eterna e carismática Amélie Poulain, que de perto parece uma adolescente de 14 anos de tão pequenina -, Aure Atika, Yahima Torres (maravilhosa em A Venus Negra), Caroline Bottaro, Nicolas Vanier e Philippe Martin. Quando Deneuve subiu ao palco para agradecer, a plateia emocionada ficou de pé, aplaudindo efusivamente. Sandrine Bonnaire, que ninguém mais lembra quem é, só apareceu em São Paulo e foi muito amável (estourou com um filme em que era mendiga nos anos 80: Sans toi ni loi, no Brasil A Mendiga, 1983).
O filme magnifico (Potiche) começou e Catherine foi a um jantar armado no Parque Lage, e ainda teve paciência para dar um olá na festa preparada para a bande française no Palácio da Cidade, em Botafogo,Rio. Mas, a superlotação do lugar e assédio sem controle (puxavam a sagrada La Deneuve), os stars não demoraram e saíram do "pagode chic no palácio".
Para receber os franceses e a troupe, a produção do festival Varilux de cinema colocou um constrangedor trio cantando samba- exaltação, samba-enrêdo e chorinho. Mereciam bem mais.
Texto: Ovadia Saadia email: ovadiasaadias@terra.com.br
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